Unexpected Thoughts!

>> domingo, 9 de dezembro de 2007

Há muitos anos conheci uma rapariga em que os pais se separaram quando ela tinha 5 anos e o irmão, poucos meses de vida.

Depois desse dia, o pai simplesmente desapareceu da vida deles. Nunca quis saber se estavam bem, se precisavam de alguma coisa, se ainda eram vivos. Nada, nem uma palavra, um telefonema. A única recordação que ela tem de quando estavam todos juntos era do pai a gritar para mãe, dizendo-lhe para ela lhe dar o dinheiro que ganhou a trabalhar, para ele o ir gastar em jogo e tabaco… e em mais sabe-se lá o quê! Sei também que nesse dia, ela estava em pé em cima da cama, a assistir.

Não existem mais recordações, essa é única!

Não sei como foram os anos seguintes da vida dela relativamente a sentimentos, se ela me contou, não me recordo. Estiveram a morar em casa dos avós maternos.
Sei que no dia do pai, os colegas fazerem prendas e desenhos para os pais enquanto ela não fazia para ninguém e depois começou a fazer para o avô!

Mudaram de casa. Ela não se lembra muito dessa altura.
A mãe arranjou um namorado e o irmão dela começou a chamar esse homem de pai.
Bom para ele, afinal de contas foi o único que conheceu, apesar de saber que não era o verdadeiro.

E voltaram novamente a mudar de casa e de infantário.
Grande parte das vezes a mãe não os podia ir levar à escola e sei que ela com 9 anos ia sozinha com o irmão até à escola. Deixava-o no infantário e depois ia para a escola pois pertencia tudo ao mesmo. Cesto na mão e lá iam eles.

Até eram felizes. Faltava sempre algo, mas eram felizes!

A mãe casou-se. Voltaram a mudar de escola, amigos, sítio. Acho que ficaram muitas recordações dessa altura em que moraram em Sacavém.
Nessa nova casa ganharam uma nova família. Ela nunca se integrou. Não conseguia chamar ninguém de pai, avó, avô, tia, tio e primos. Só a mãe e o irmão eram da família dela! Ele conseguiu e foi muito bom para ele.

Anos mais tarde, a mãe voltou-se a divorciar. E o “pai” do irmão dela deixou de falar ao miúdo porque a nova mulher o proibiu de o fazer.
Não sei o que passou na cabeça do puto, mas saber que o homem a quem chamou pai durante 12 anos cagou nele de um dia para o outro, deve ter doído! Aliás, eu sei que sofreu muito por causa disso.
O resto da família dele mantêm contacto até aos dias de hoje e gostam muito dela, do irmão e da mãe mas o elemento principal para o irmão dela não o faz.

Voltaram a mudar de casa. Mas os amigos e a escola mantiveram-se!
Houve um dia em que ela precisou de viajar para fora do país, Boston - EUA!
Era menor de idade, tinha 16 anos e por isso, necessitava da autorização de ambos os pais. Tinha que ir ter com ele.
Pediu à mãe para ir com ela. Combinaram no notário.
Ele apareceu. Ela ficou nervosa. Estava novamente com ele depois de 12 anos. Ele agiu como se tivesse tudo bem, como se nunca tivessem perdido contacto, como se sempre tivesse ajudado, preocupado.
Trataram da papelada. Ainda beberam café.

Ele olha para a rapariga e diz-lhe: “És tão bonita mas tens uns olhos tão tristes!”

A mãe dela não gostou. Perguntou-lhe prontamente porque é que ele achava que isso acontecia. Falaram como se ela não tivesse ali.
Ele disse que as coisas iam mudar, que a partir daquele dia iria ser mais presente, ajudar em alguma coisa e que queria conhecer o filho.
A rapariga feita parva acreditou. Foram precisas poucas semanas para saber que era tudo mentira. Dele? Nem telefonema a saber se o avião tinha caído ou não.
No 11 Setembro de 2001 estava ela em Boston porque os aeroportos estavam todos fechados.

Ela voltou e as coisas continuaram como sempre. Nada de especial.
Voltaram a mudar de casa. Mas mais uma vez, os amigos e a escola mantiveram-se!
A mãe já tinha novo namorado mas cada um na sua casa.
O irmão sempre aceitou bem os namorados da mãe, ela nem por isso!
Os anos foram passando, as coisas com o namorado mantinham-se.
Muitas vezes ela esquecia-se dos filhos em função do namorado. Os fins-de-semana eram para ele. Os restinhos que lhe sobravam ao final do dia, umas vezes eram para os filhos, outras para o namorado.

E ela via o irmão a sentir isso na pele e não gostava. Para ela era meio indiferente. Felizmente ou infelizmente, já estava habituada. A relação com a mãe nunca foi de amigas confidentes, sempre foi tudo muito distante. Não se abria, não falava, o que sentia era só dela e de mais ninguém.
Mas o irmão não podia sofrer, não podia sentir o que ela sentia e muitas vezes se chateava com a mãe por causa disso. Parecia que ela se esquecia deles a maior parte das vezes. O irmão sofria calado por causa das escolhas da mãe e ela por ver o irmão assim.

As coisas foram melhorando, aos poucos. Nada de bom, mas simplesmente aceitável.

Chegou uma nova pessoa à família deles. Estão todos contentes.
A mãe deles mudou-se para ir viver com o namorado. Estão os dois sozinhos. Em breve o irmão também se vai mudar lá para casa, é bom para o irmão. Mas ela sabe que o irmão vai ficar mais uma vez em 2º ou 3º lugar. Consciente ou inconscientemente é o que vai acontecer. E ela gostava que o irmão sentisse que de facto ele também merece o 1º lugar.

Não tenho pena deles, é um sentimento feio e que só se deve ter por pessoas mesquinhas e invejosas. Mas deixam-me triste. Vai-lhes sempre faltar o sentimento que se recebe por parte de um pai. Não DO pai deles, mas de um que realmente merecesse ser pai.

É por isto que a minha melhor amiga não gosta do Natal e eu até a compreendo!


Música: "I Miss You" - Haddaway

13 bitaites:

Ana 9 de dezembro de 2007 às 12:45  

Essa bem podia ser a minha história, com algumas "pequenas" diferenças.
Eu e o meu irmão ficámos com o meu pai e da minha mãe... nem sinal de vida!
No entanto, tive a sorte de ter sempre um pai que valeu pelos dois e muitas vezes me pergunto se a figura materna alguma vez fez realmente falta.

Curioso... talvez também seja por isso que detesto o Natal.

Bjocas

Foi Bom 9 de dezembro de 2007 às 14:12  

Eu acredito que quando alguem nao gosta do Natal, se deve a todos estes factores, principalmente de uma familia destruida e separada...Eu adoro a Natal. Sempre tivemos pouco, muito pouco, mas naquela noite a mesa estava sempre cheia de comida, muitos doces, e todos juntos, pais, irmaos e avos. Mas no entanto, e voltando a tua historia, sou da opiniao que mais vale nao ter pai nenhum, do que ter uma besta que grita, bate e maltrata psicologicamente as pessoas que tu amas! Nao tenho a melhor relaçao do mundo com o meu pai, alias, ha dias que nem o posso ver a frente, mas e' meu pai, se alguma vez me bateu foi uma palmada, ate porque mais nao lhe admitia! Quanto a minha mae, amo-a tanto que nem tenho palavras para o descrever, e' em ela que descarrego todas as minhas frustaçoes e a gaja tem que aguentar e calar! Para me remediar disso gostava de ser a melhor mae do mundo...um dia...

Nanny 9 de dezembro de 2007 às 14:52  

A vida dos filhos de pais separados ou divorciados é sempre complexa, de uma ou de outra forma... mas convém, às vezes, olhar para o outro lado... como estará a vida e a cabeça daquela mãe... já te interrogaste?

Beijinho

iFrancisca 9 de dezembro de 2007 às 22:38  

Infelizmente conheço esta história porque tem alguma coisa em comum com a minha... mas o que interessa é olhar para a frente de cabeça erguida e pensamento positivo! bjs

Ana 9 de dezembro de 2007 às 22:41  

� por isso que h� 6 anos o Natal n�o tem qualquer significado para mim!

tavguinu 10 de dezembro de 2007 às 17:02  

NO WORDS !

Anónimo 10 de dezembro de 2007 às 22:13  

Aposto que essa tua amiga com tudo o que passou, e passa de alguma forma, cresceu muito e se tornou em alguém muito especial. Manda-lhe um beijo muito grande meu.

E tu cm amiga sei que estás lá sempre para ela.

Beijoca grande

silence!!!

Foi Bom 10 de dezembro de 2007 às 22:37  

Nao cheguei a concluir o meu raciocinio, mas ja reparaste que essa tua amiga cresceu e se fez mulher sozinha, e que por acaso deve de ter feito um optimo trabalho, sem a ajuda de ninguem? Se fosse com uma amiga minha eu iria ter tanto, mas tanto orgulho nela...;)

Gaja Boa 2 10 de dezembro de 2007 às 23:46  

Tenho pena dessa tua amiga...é uma história triste...

Anónimo 11 de dezembro de 2007 às 18:45  

Há coisas na vida que marcam...mas é isso que nos faz quem somos...
beijinhos linda

Anónimo 12 de dezembro de 2007 às 10:26  

Deixa-me cá enxugar a lágrima ali ao canto...pronto, se não queres que tenha pena, eu não tenho, mas são daquelas fases lixadas da vida.
Não passei por nada parecido, e vou fazendo o que posso para que outros nunca venham a sentir nada disso.
De qualquer forma, quando se resiste, fica-se mais forte.
Mas há coisas, que não habia nexexidade...

mjf 12 de dezembro de 2007 às 11:05  

Olá :o))
Triste realmente, mas o que não mata...fortalece.
A dor ajuda a crescer.

Beijos

PEIXE 13 de dezembro de 2007 às 15:45  

Espero que daqui para a frente corra tudo bem á tua amiga, depois de ler isto e de ver muitas histórias, cejo que á muitas pessoas que têm tudo e queixam-se de nada!!

beijokas

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